segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Política e educação no Brasil hoje: questões para a Educação Infantil



Entre os dias 20 e 22 de setembro aconteceu o XXXIII Encontro do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil - MIEIB. A primeira mesa do encontro intitulada: “Política e educação no Brasil hoje: questões para a Educação Infantil”, teve a participação da Professora Macáe M. Evaristo dos Santos (Secretária Estadual de Educação de Minas Gerais), da professora Carmen Maria Craidy (UFRGS) e da Professora Dalila Andrade Oliveira (UFMG). A mesa trouxe importantes análises do momento político atual em que estamos vivendo no país e suas consequências para a Educação Infantil. Embora as três palestrantes tenham trazido questões importantes (que serão compartilhadas posteriormente nesse blog), a fala da Professora Carmem Craidy chama atenção pela análise macro da situação política nacional e internacional. Essa análise de conjuntura nos permite compreender momento atual vivido no país e nos ajuda a enfrentar os retrocessos que se sucedem a cada dia.



Golpe no Brasil

A professora Carmem iniciou sua fala falando da perplexidade e insegurança que o golpe causou em todos os planos: “um susto por dia: cada dia acontece alguma coisa nova”.

Quais são os agentes do golpe? Por que isso aconteceu?

A professora Carmem afirmou que os corruptos que estão no poder não são os principais protagonistas do golpe, apesar de se aproveitarem dele para se beneficiarem. 
“O golpe foi preparado por muito tempo e se situa em uma conjuntura de recomposição geopolítica internacional. O capital financeiro que teve um grande baque em 2008, que provocou uma grande crise do capital, recuo da social democracia na Europa, eleição de um presidente nos Estados Unidos ultraconservador. Vivemos uma crise civilizatória que ameaça valores construídos por décadas, a partir da segunda guerra, valor da liberdade, democracia, solidariedade, igualdade.
No caso brasileiro, nosso país tem uma história de dominação muito grave, na qual nunca chegamos a igualdade, nunca chegamos a viver a realidade democrática. Como diz o Boaventura, o grande desafio é de democratizar a democracia, o que não conseguimos em nenhum momento da nossa história”. 

“Alguns sintomas do reajuste geopolítico foram identificados:
- Sucessão de golpes na América Latina Paraguai, Honduras e Brasil. Golpes com características diferentes dos golpes da década de 1970, que foram golpes com características militares. Efeitos do golpe parlamentares quase piores que o de 1964. Golpe de 64 foi um golpe de perseguições, torturas e mortes mas não levou o Brasil a uma descaracterização como pais, que é o que nos ameaça hoje se se concretizem todos os projetos em curso: privatização, desrespeito a soberania nacional, nós seremos transformados em um pais de fornecimento de matérias primas e de commodities, sem autonomia e sem soberania. Entrega da Petrobras, Eletrobrás, desmonte dos avanços da navegação, avanço na ciência e tecnologia. Não existe avanço nacional sem ciência a tecnologia (que estão sendo destruída), permissão de compras de terras por estrangeiros. Destruição da educação, desrespeito ao PNE, e o corte de financiamento que vai criar uma desescolarização. Medidas que subalternizam o nosso pais. Medida de alto concentração do poder econômico e pauperização da população.

- Salta a vista o empobrecimento da população e a concentração de renda. Crise do capital chegou ao Brasil com atraso (aguda em 2008) mas chegou e foi enormemente agravada pela crise politica que não permitiu que as medidas necessárias fossem tomadas. E as medidas que estão sendo tomadas, são medidas na linha da salvação do capital e não do resgate da população pobre. Boaventura – Portugal é hoje o único pais da Europa que se desenvolve. Portugal recusou a proposta neoliberal que está avançando enormemente no mundo.

No Brasil nós vivemos não só um ultraliberalismo, mas também um ultraconservadorismo. Avanço não só no governo, mas na sociedade. Isso é possível porque se gerou uma situação de insegurança muito grande na sociedade, aumento enorme da violência e uma busca de solução só com repressão e controle social. Esse quadro pré-fascista ameaça de tal forma a sociedade que a tendência é radicalizar no conservadorismo e radicalizar no sentimento de que vale tudo.
As elites aderem ao ultraliberalismo e conservadorismo como forma de se preservarem como elites. A classe média insegura, querendo ser elite, adere também a essas perspectivas e a população pobre não tem instrumentos nem recursos para lutar.

Situação é de uma gravidade enorme!

Perplexidade da classe média e da população é tal que acaba aderindo a projetos ultraliberais e conservadores”.

“Outra questão que explica essa crise econômica que o Brasil vive é a baixa do preço do petróleo, que foi feita artificialmente, dentro dessa reorganização geopolítica internacional em que os EUA guardam suas reservas de petróleo e usam o petróleo de outros países para o seu consumo. Queda do petróleo provocou queda de recursos do Brasil e na Venezuela, por outro lado se busca os EUA buscam a desestabilização dos governos progressistas, eleitos depois das ditaduras de 60. Desestabilizar esses governos e manter a América Latina geopoliticamente dependente é fundamental para os EUA, que disputa com a China a geopolítica mundial, em função de que a China avançou enormemente economicamente no mundo e tem uma influencia enorme na AL e nos EUA, que a penetração econômica é importante.
       Esse quadro é meio aterrorizador e a gente se pergunta até onde vai e onde vamos chegar com isso. Ninguém sabe! Essa resposta não existe! Isso pode reverter ou se consolidar pelos próximos 30 anos”.

Papel dos movimentos sociais

     “O que me preocupa mais do que as propostas absurdas que o governo está fazendo, esse governo corrupto e ilegítimo, o que me preocupa mais do que isso, é a perplexidade e a desarticulação da população, a fragilidade da resistência. Isso é muito mais preocupante!”
      “Nesse quadro, o movimento social e suas resistências passam a ser uma prioridade”. A autora evidencia nesse sentido, o papel do MIEIB como um movimento importante no país dada sua capilaridade, clareza nas propostas e articulação nacional e coletiva.


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Para saber mais sobre a fala da Professora Carmen Craidy e as demais falas do encontro do MIEIB, segue o link:

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